21.10.11

Vivendo lentamente

Falar sobre o cotidiano sempre me deixa com uma impressão de que algo ficou faltando. Talvez porque eu tenha a inclinação a achar que minha vida está entre as menos interessantes deste mundo e que, assim sendo, não há nada a falar. Ou, pelo menos, nada de tão interessante que faça com que outras pessoas percam cinco minutos da sua vida lendo ou escutando qualquer coisa que eu tenha a dizer.
Considero minha vida bem monótona, ou no mínimo enfadonha para os padrões atuais onde as coisas acontecem tão rapidamente que dificilmente conseguimos acompanhar, ou então tão cheia de tragédias e dramas que muitas vezes merecem ser contados no Jornal Nacional. Onde todos estão sempre tão ocupados e preocupados que não há tempo para sentir nem valorizar as coisas lentas, prazerosas e muitas vezes mágicas que acontecem no nosso dia-a-dia.
Quem me conhece melhor sabe que sempre fiz absoluta questão de não cultivar jamais nenhum tipo de pacto com a desgraça, com a pobreza de espírito ou com as doenças do corpo ou da alma. Não admito que a infelicidade ou as tragédias batam à minha porta e, caso batam, me recuso a deixá-las entrar. Sou chamada por alguns de tonta, por outros de alienada. Dizem que fecho os olhos para o que acontece à minha volta e que a vida passa lá fora sem que eu perceba. Não acho. Acho só que percebo a vida, as coisas, as pessoas, de um jeito um pouco mais leve e mais feliz.
Um jeito desinteressante de viver? Pode ser. Talvez eu inevitavelmente envelheça sem tantas histórias para contar quanto uma turma de gente que eu conheço e que anda desenfreada procurando as coisas por aí. Mas com certeza meu tempo passará mais lentamente, meus cabelos demorarão mais a embranquecer, e as muitas poesias que leio e canções que ouço permanecerão vivas na minha memória por mais tempo. Viverei tranquilamente ignorando algumas dificuldades que me recuso a aceitar. Mas com certeza terei muito, muito tempo para cuidar das minhas flores e para ver todas as árvores, as pessoas e os amigos que plantei ao longo da vida evoluírem e darem belíssimos frutos.
Bom final de semana!

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