13.10.14

Sobre o tempo e seus caprichos

A mecha branca nos cabelos que insiste em aparecer quando o penteado é especial me incomoda. Cada vez mais me incomoda. A cada dia mais viva e mais intensa, a me lembrar incessantemente das horas, dias e anos que se perdem tristemente nas atribuições cotidianas sem fim. Um dia ela já foi quase uma sombra entre os cabelos, os lindos fios castanhos, e há tempos me pergunto se está onde está apenas para me lembrar diariamente que o tempo passa e não há alternativa. Caprichosa como é, decidiu exibir-se na frente, bem na frente. Na nuca? Não, jamais! Na frente!
Agora esqueço da mecha e me concentro nos óculos. Não os de sol, chiquérrimos, porque esses mantenho em coleção. Variadas formas e tamanhos com lentes mais ou menos escuras, que exibo com orgulho de acordo com a situação. Os adoro! Ah, como adoro! Por baixo deles, as lentes de contato, amigas fiéis que há tantos anos me permitem reconhecer prontamente quem caminha do outro lado da rua. Mas não são esses que me atormentam. Penso sim nos óculos de leitura, que um dia irão se apoiar na ponta do nariz e implacavelmente denunciar que já terei vivido mais verões do que sou capaz de contar em meus dedos. Que denunciarão experiências acumuladas, boas e ruins, aquelas que me fizeram ser quem hoje eu sou e outras mais. Que mostrarão ao mundo que o tempo passou, e que para isso não há alternativa.
Sábia eu sou quando me coloco à frente da vida sem me dobrar aos sinais da idade. Quando transformo meus limites a cada dia é os respeito com amor. Quando assisto o tempo passar calmamente e sem pressa entremeando os dias, os meses os anos. Quando respeito os caprichos do tempo e amo ser quem realmente eu sou. E quando, com bom humor e alegria encaro de frente o que vier.
A propósito, acabo de ligar no salão de beleza. Estou saindo para pintar os cabelos.


7.2.14

 
 
 
 
"Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.

Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.

Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.

Preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento.

Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.

Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.

Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.

Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.

Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.

Ansiedade é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja.

Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.

Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.

Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.

Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.

Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.

Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.

Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente mas, geralmente, não podia.

Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.

Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.

Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.

Paixão é quando apesar da palavra ¨perigo¨ o desejo chega e entra.

Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado.
Não... Amor é um exagero... também não.
Um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?

Talvez porque não tenha sentido, talvez porque não tenha explicação,
Esse negócio de amor, não sei explicar."

(Adriana Falcão)